terça-feira, 18 de outubro de 2016

Vento Nordeste - São Paulo até Minas Gerais

Conforme o barqueiro que me deu a carona, ali onde fiquei era uma comunidade de pescadores...fui procurar por seus moradores pra me informar de como iria sair dali.

Conheci Seu Feliciano e a Dona Albertina que me orientou a seguir pela praia  até Marujá, ponta norte da Ilha do Cardoso.

Mas quando eu cheguei na praia já eram quase 16 h. Nesse horário a maré começa a subir e fiquei na dúvida se conseguiria chegar a Marujá, distante 15 km. Resolvi voltar até Seu Feliciano e pedir abrigo. Eles tem um quarto para os andarilhos, ciclo viajantes...Nessa comunidade apenas 14 famílias sobrevivem da pesca. Sem rede elétrica, cada família tem uma placa solar que alimenta suas necessidades domésticas. Um lugarejo paradisíaco onde ainda vão dormir com as galinhas e estão de pé ao nascer do sol.

Também eu aproveitei deste silêncio e descansei, dormi muito.  

Só tenho que agradecer todos esses dias que passei pelo litoral paranaense. Na saída de Pontal do Leste para Marujá passei por um casal que estendiam tainhas pescadas na véspera. Eles colocam as tainhas com muito sal em varais ao sol. E assim elas ficam por dois dias. Depois os pescadores vão até Cananéia fazer a venda desse pescado.  As tainhas assim preparadas são chamadas de tainha escalada e que tem uma duração de até dois meses sem levar a geladeira. O sabor da tainha escalada é maravilhoso. 

Era hora de seguir. E os 15 km de praia desde Pontal do Leste até Marujá foi mais um desses momentos mágicos. Aquele silêncio combinado com o sol, ondas calmas desenhando a areia, os pássaros do mar brincando em direção ao céu...os pensamentos vão e vem... Tratei de aproveitar aquele meu presente que era um realmente um presente de Deus.

Quando eu comecei a pensar se já estava chegando avistei bem ao longe um ciclista vindo em minha direção. E foi chegando, chegando e logo deu pra ver que era uma mulher. Qual não foi a minha felicidade em encontrar num lugar completamente isolado uma menina, uma mulher chamada Elenice. Uma longa conversa e fiquei sabendo que Elenice faz uma monitoria diária na praia pra Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, também me orientou em como atravessar da praia até a comunidade do Marujá e me indicou sua mãe, Dona Eni pra me ajudar a conseguir um barqueiro. Do Marujá pra Cananéia só saindo de voadeira ou barcos. Também tem a opção de ficar e ir de barco de linha que passa dia sim, dia não.

Conforme, Elenice eu deveria achar o posto telefônico que é o único contato com a cidade, pois nem internet e sinal de celular lá não chega. Em poucos minutos várias pessoas ficaram sabendo que eu queria uma carona de voadeira até Cananéia. Como era perto de meio dia, eu teria que ficar esperando essa possível carona. 

Claro que não demorou muito e Dona Eni falou pra eu ir pra beira do rio esperar a canoa.  Logo ela chegou e seguimos pra Cananéia num percurso de 1h e 15 min.

Foi uma viagem tranquila. O brilho do sol contornava as árvores e formava um espelho nas curvas do rio. Lindo! Apesar do sol impor sua grandeza o dia estava muito frio. Ainda bem que antes de eu entrar na canoa lembrei de acrescentar a jaqueta corta vento...uufaaa.  Muito frio.

Depois de uma hora e pouco chegamos ao terminal de barcos. Cananéia é uma das cidades mais antiga do Brasil e seu centro histórico ainda preserva estilos arquitetônicos adotados pelas primeiras casa desde o período colonial e o charme de toda cidade dessa época. A canoeiro desacelerou e deixou que aos pouquinhos a canoa encostasse no cais.

Quando desci da canoa senti uma vertigem pois tenho um problema sério de labirintite...e o movimento do barco não é o meu forte. Por alguns minutos tenho que ficar esperando aquela sensação do movimento das ondas sumir da minha cabeça. Descemos a bicicleta, agradeci e segui para o centro histórico. Depois de dois dias sem sinal do celular e internet, parei na praça em frente a Igreja Matriz para ligar pras filhas dando sinal de vida. E também pra tentar achar o contato que Fábio me deu ainda em São Francisco do Sul. Liguei várias vezes sem sucesso. Já eram perto de 4h da tarde e o dia estava muitoooooo frio.

Resolvi não arriscar e procurei uma pousada. Quando estava já instalada, tomei um banho quente e aquecida, Mara me retornou e falou que se eu quisesse poderia ir pra sua casa. Fui a recepção e implorei a recepcionista que me liberasse. Ela um tanto receosa mas diante do apelo de uma cicloviajante sem recursos cedeu e me deixou sair...agradeci tanto, tantas vezes dizendo obrigado que ela foi obrigada a rir.  Novamente na rua e mesmo com os cabelos molhados podendo pegar uma boa gripe fui procurar a casa de Mara, contato de Fábio. Cananéia é uma pequena cidade o que não foi difícil encontrar sua casa. Mara mora com Myllena, sua filha que é casada com  Alison.  Mara é uma anfitriã amorosa e cheia de energia...passamos boas horas conversando e trocando muitas idéias. A conversa se estendeu tanto que esquecemos das horas. E como nós duas deveríamos acordar cedo, fomos deitar pra conseguir um bom descanso. 

Nessa noite a temperatura chegou a 3 graus. Senti muito frio. Mas nada como um bom café ao amanhecer pra dar energia e continuar a viagem. Entre despedidas e muitas recomendações por parte de Mara segui rumo a Beira rio onde deveria pegar a balsa.

Perdi a balsa das 9.30 min. Mas embarquei às 10 h.

Essa travessia é de Cananéia pra Ilha Comprida.Do final da travessia até a praia são 3km. O percurso de 55 km do Boqueirão Sul ao Boqueirão Norte. Mas, temos que levar em conta o vento, as ressacas e a maré.

Também encontrei pelo caminho vários riozinhos. Uns dá pra atravessar tranquilamente pedalando e outros tive que optar. Porque com a velocidade da água eu poderia não conseguir atravessar. Assim molharia os pés, meias, bota...e nessa época a água tá muito gelada.

Eu optei por não me molhar e em alguns riozinhos, desci, tirei o calçado e empurrei a bicicleta até a outra margem.

 Quase no meio do percurso e perto do meio dia a maré começou a subir. Me deixando com poucas margem de areia dura pra pedalar. Cheguei a comunidade de Pedrinhas e resolvi continuar o caminho pela estrada que ia paralela com a praia.

De Pedrinhas até Boqueirão Norte foram 30 km, metade com estrada de chão e metade com asfalto. Também é necessário estar bem suprido com alimentos e líquidos pois não se encontra nenhum tipo de comércio pra se abastecer. Em meio ao caminho passei pela Vila Nova quando eu conheci o Seu José Mauro e sua esposa Marinalva e parei pra conversar.

Eles me ofereceram um delicioso suco de maracujá e a conversa corria solta. Foi assim que eu soube como ele, mineiro e ela, baiana se encontraram, casaram, construíram as suas vidas em São Paulo e agora aposentados curtem o silêncio e a calmaria da Ilha Comprida.  Entre sorrisos parti pra Boqueirão Norte e se desse ainda Iguape.

Nessa hora, minhas frutas secas, bolachas e frutas acabaram. E quando cheguei a Boqueirão Norte parei no posto dos bombeiros perguntei onde teria uma boa padoca pra tomar um café...comentei com o Soldado da minha fome.

Ele pediu que esperasse um pouco e voltou lá de dentro do posto com um saco de barras de cereais. Um saco cheinho e falou: agora essas barrinhas vão te salvar na necessidade  rs rs rs Verdade! Por vários momentos durante a viagem procurei pelas barrinhas. E com a indicação dele fui para a padaria mais próxima e matei uma tigela de caldo de abóbora com muitas torradinhas.

Comprei pães e pãozinho de queijo pra ir mastigando até chegar em Iguape, ainda distante 8 km. A tarde ia caindo e o frio aumentando. Se fazia necessário chegar logo pra não encarangar rs rs (encarangar pra quem não conhece é morrer de frio) acho que nessa noite foi a mais fria de toda a minha viagem. Depois fiquei sabendo que a temperatura chegou a 0 graus.

Quando cheguei em Iguape lá se ia o último raio do sol e o azul escuro da noite foi tomando conta do céu. Procurei a praça principal e ali mesmo, olhando a praça que estava recebendo o  4FPL - Festival Paulista de Literatura, fiquei pensando o que fazer.

Nesse mesmo instante o produtor cultural do Festival me viu e chegou pra conversar.  Nessa conversa falei da necessidade de achar um lugar pra eu dormir. Então, ele me apresentou a Alzira, Secretária de Cultura de Iguape, e ela atenciosamente, me levou uma pequena pousada perto da praça. Foi ali mesmo que fiquei na Pousada Oasis. Ana Lúcia, proprietária, me recebeu carinhosamente e me conduziu ao quarto. Ela foi me orientando sobre as regras da Pousada. E que também poderia me beneficiar da cozinha e da lavanderia. Foi quando conheci Ana Luiza que estava em Iguape por conta do seu mestrado...ela tinha como tema a pesca da tainha. Então cedo ela saía pra se encontrar com os pescadores locais e fazer sua pesquisa.

O que restou a tarde de sábado pra nós duas passear pelas ruas da cidade e apreciar suas casas, igrejas, beira-rio, praças. Iguape é um município do Vale do Ribeira, ao sul do estado de São Paulo.

O início de sua colonização data a época do descobrimento.  Fomos ao Mirante do Cristo porque de lá tem uma vista maravilhosa do Vale do Ribeira com um maravilhoso por do sol.  A noitinha ainda deu tempo pra uma volta na praça mesmo com a temperatura marcando 3 graus e com direito a um bom caldo de abóbora!!!  Hummmmm!!! 

Sempre é muito bom encontros casuais que transformam o teu momento. Foi assim com Ana Luiza. Obrigado pelo lindo dia de sábado em Iguape.  Nessa noite, com o frio de bater queixo, enrolado nos cobertores da pousada e enfiada dentro do meu saco de dormir, pés congelados, adormeci. Acordei cedo e fui organizar minha bagagem dentro dos alforjes. A Pousada é uma construção muito antiga que ainda resguarda as escadas, portas, assoalho que fazem barulhos característicos. Mas, mesmo andando pé por pé, o barulho era inevitável.  Quando abri a porta da cozinha Ana Lúcia deu um sorriso com um bom dia caloroso e chamou: vamos tomar café?  Eu que adoro um bom café pela manhã retribui o sorriso com um bom dia e partimos para o café. A boa alimentação pela manhã é imprescindível pra uma boa pedalada. Dá energia e muito bem-estar.

Uma fotografia pra despedida, um abraço apertado e promessas de volta. Deixei Iguape muito feliz por ter conhecido essa terra tão aconchegante. E com 6 graus marcando a temperatura, parti. Andei alguns kms até começar a operação cebola, tirando as camadas a medida que esquentava, o sol brilhava e eu cantarolava "ando devagar porque já tive pressa..." se Almir Satter me ouvisse cantarolar acho que ficaria orgulhoso rs rs  

E nesse 12 de junho, dia dos namorados, estava eu enamorada pela natureza que me acompanhava pela SP 222. O dia estava lindo que eu apenas pedalava, parava pra fotografar, pedalava, parava pra conversar, ganhar umas bananas, descansar, pedalar, comer, beber água até que cheguei no ponto que Fábio Vieira me passou, a entrada do Despraiado, na Estação Ecológica da Juréia - Itatins.

Conversei com alguns moradores que me aconselharam a não seguir porque nessa semana havia chovido muito e várias barreiras tinham fechado o caminho. Havia muitas patrolas na estrada em obra. Então resolvi continuar na SP 222 em direção a BR 116. Infelizmente porque o movimento nessa estrada é super intenso e pesado. Como não tinha outro jeito eu segui.

A chegada a BR 116 é muito chocante pela diferença de movimento. E num trecho de mais ou menos 25 km até chegar a estrada SP 055 - Rodovia Pe.Manuel da Nóbrega que leva a baixada santista é tenso e estressante.

Por volta das 16 h peguei esta rodovia pensando que estava perto de Pedro de Toledo.

Mas como a estrada tinha algumas subidas bem longas cheguei perto das 18 h em Pedro de Toledo.  Uma cidade bem pequena e só tinha duas pousadas.A primeira pousada não me senti bem e na segunda pousada além do dono não querer deixar eu levar a bicicleta queria cobrar 80 reais sem café da manhã. Resolvi ir pra rodoviária e tentar uma passagem pra cidade mais próxima. Minha ideia deu certo mas teria que esperar até às 19.40 pelo ônibus. Nesse meio tempo fui a um bar comer um lanche e trocar de roupas, pois a minha estava completamente molhada do dia. Quando o ônibus chegou eu expliquei ao motorista a minha aventura e ele, imediatamente, pegou a minha bicicleta e colocou no porta malas. Disse pra eu entrar e me acomodar em qualquer poltrona. Foi  o que fiz, sentei e relaxei porque a viagem seria curta até a Praia de Peruíbe. Eram mais ou 21.30 h quando chegamos a rodoviária. Ali mesmo eu abri o aplicativo Warmshowers numa tentativa que desse certo pois já era tarde pra ficar incomodando as pessoas. Apareceu um ponto de apoio. Abri e veio o nome da Sônia. Liguei pra ela explicando minha situação e ela disse que estava em Lençóis - BA.  Eu falei que tudo bem e iria procurar um hotel. Então ela falou: Tudo bem nada, vou ligar pra minha mãe e você vai pra minha casa. Como eu não estava em posição de recusar, fui!  Levei perto de meia hora pra chegar e achar a casa de Sônia. E quem me recebeu foi Jorge, um amigo de Sônia. Eu só tenho que agradecer muito, muito mesmo o carinho e a confiança de Sônia e Jorge em me receber aquela hora da noite. Depois de um banho Jorge me fez companhia oferecendo uma macarronada feita pela Dona Dalva, mãe de Sônia. Conversamos mais um pouco e fomos dormir.

Só no outro dia e com um cafezinho maravilhoso conheci Dona Dalva e Sandra. Essas pessoas incríveis que nos surpreende, foi assim com Sônia, Jorge, Dona Dalva e Sandra. Obrigado pelo carinho. E nessa energia maravilhosa eu me despedi. Retornei pra Rodoviária de Peruíbe. Peguei um ônibus e cortei caminho das praias de Itanhaém, Praia Grande e São Vicente. Por vários conselhos de amigos sobre a possível violência nessa região. Desci na rodoviária de Santos e continuei a viagem pela ciclovia que leva até a Beira mar de Santos.

Sempre pela ciclovia continuei até a balsa que atravessa para o Guarujá. Do outro lado, o caminho continua por ciclovia até a praia. Quando eu seguia pela ciclovia muitos motoristas diminuíam a velocidade pra falar que eu saísse o mais rápido dessa região por ser muito violenta. Na minha posição, não tinha muito o que fazer, se correr o bicho pega e se ficar o bicho come...segui até a praia onde pedi orientação pra continuar para a Estrada do Pernambuco. Confesso que quando saí de Santos e do centro de Guarujá fiquei mais tranquila.

O fato é que quanto mais as pessoas falam de forma negativa mais a tensão cresce. Por mais que seja a realidade o medo vem junto com as palavras das pessoas nas ruas. E já na Praia de Pernambuco muda a paisagem, mudam os receios. Foi quando encontrei o Sérgio Mônaco, ciclista de muitos anos, vinha tranquilamente pela rua.

Ele começou a me acompanhar e fomos conversando por alguns metros. Fizemos a tradicional foto dos amigos da estrada dessa vez no Barco Pirata, uma arte em ferro e material reciclável.  Trocamos contatos e nos despedimos. Continuei o caminho pois precisava encontrar uma pousada. Marquei encontrar o Thiago, Noel e Maria, meus amigos de Floripa,  que vinham do Rio de Janeiro. Então, fui pra uma padaria comer e esperar eles chegarem. Foi quando conheci o Marcos. Nossa ficamos por quase duas horas conversando, rindo e trocando histórias parecendo nos conhecer a anos.

Marcos que trabalha em São Paulo, capital e mora no Guarujá. Quando eu pensei que Thiago estava perdido ele ligou dizendo que já estava na Pousada. Deixei Marcos sem antes fazer a foto dos amigos da estrada. Depois de duas semanas na estrada e encontrar amigos de casa dá aquela sensação de quanto estava longe. Voltamos a mesma padaria que conheci Marcos pra tomar um caldo de mandioca pra esquentar.

Conversamos muito, fotos, selfies rs rs rs e logo o sono foi chegando. Era hora de voltar pra pousada.

No outro dia, entre despedidas e fotos, recomendações e lembranças, estava eu na estrada novamente.

Parti em direção a Bertioga. Mas na Praia do Perequê parei ao ver o artesanato em vime e cipó de Leonel. Conversando com o artesão, ele me perguntou pra onde era a minha direção. Foi quando me recomendou a não seguir a estrada pois uns 200 mts adiante havia muito assalto a mão armada, principalmente com ciclistas. Meu primeiro pensamento foi ligar para a polícia e que não deu a mínima. Liguei então para o Marcos, que eu havia conhecido na noite anterior,  que é policial. Ele pediu para um outro amigo dele me ajudar. E assim foi que o Zé Carlos foi ao meu encontro e me acompanhou por uns três km. Até sair daquele apuro. Zé Carlos, de uma simpatia extrema, me fotografou na estrada e depois me mandou essa foto.

Zé Carlos me assegurou que dali em diante estaria segura. Segui em direção a balsa pra Bertioga. Realmente, depois que passou aquelas horas de tensão, o brilho do dia se intensificou.

 

Percorri cerca de 18 km, olhando pra tudo e de longe vi um homem arrumando um carro a beira da estrada. Parei pra conversar. Eu tive prazer de conhecer o Toninho Tapioca.

Em meio a nossa conversa ele me disse que sentia uma grande necessidade de fazer uma oração e pediu permissão.  Uma oração sempre é muito bem vinda depois das tensões do dia anterior. Foi como se lavasse a alma. Me senti muito bem com as palavras ditas por ele em pleno meio dia e doze minutos em meio aquela natureza. Com a energia renovada fui pra balsa.

 

A travessia é bem rápida. Em menos de quinze minutos estávamos chegando ao outro lado, já em Bertioga.

  Foi quando um casal se aproximou e começamos a conversar. Entre perguntas e respostas fomos nos conhecendo rapidamente.  Daniel, que é Guarda vidas em Bertioga, um dia viu Sonali na praia e se apaixonou. Foi ao seu encontro e estão juntos até hoje. Sonali que não mora em Bertioga, trabalha como advogada em sua cidade, Bauru.  Eu curiosa sobre eles e eles sobre mim e a viagem. Então, foi quando resolvemos almoçar juntos pra colocar a conversa em dia. Eu estava me sentindo em casa na companhia deles.

Alimenta não só o corpo, alimenta principalmente o espírito com aquele encontro carinhoso. E naquele 14 de junho de 2016 me despedi deles com um abraço bem apertado e agradecendo de ter conhecido duas pessoas tão especiais.

Em direção a Estrada Rio- Santos, foram mais ou menos 28 km até chegar em Boracéia.

Um pouco antes da cidade fui parada numa blitz e me pediram a carteira de motorista, eu ri e respondi que havia esquecido em casa. Foi quando conheci o Ivan Cruz, policial rodoviário, e ficamos por um bom tempo conversando.

Como já estava ficando tarde me despedi e segui para o centrinho de Boracéia pra procurar uma pousada.

No outro dia, parti em direção a Ilhabela, distante 79 km. Esse dia foi dividido em capítulos porque foi uma novela...e cada hora uma expectativa.

De Boracéia a Praia de Boiçucanga é muito plano, então tem a sensação de estar bem.

Mas chegando a Boiçucanga tem exatamente 3,5 km de pura subida, sem acostamento, muito íngreme e curvas bem fechadas.

 

Com certeza, com o peso que eu carregava não conseguiria subir pedalando. Então o jeito era empurrar. Antes de começar a aventura tomei um bom caldo de mocotó pra dá bastante energia. Uma hora e meia empurrando a bicicleta. Quando cheguei no topo eu estava completamente molhada. Troquei de roupas porque o tempo ainda era muito frio. E eu poderia congelar. Depois era hora da descida. E foram 3,5 km de descida até a Praia de Maresias.

Quando eu pensei que não teria que enfrentar outras subidas, me enganei totalmente. Dali em diante até Ilhabela são subidas e descidas, curvas e curvas. Nessa hora não dá pra parar e pensar. Tem que seguir, continue a nadar, continue a nadar...fora a temperatura muito baixa.

Na subida, eu suava muito e na descida, o vento congelava o corpo. A viagem se tornou cansativa. Decidi parar e pegar uma carona.

Faltavam apenas 10 km pra chegar mas o cansaço tomou conta e a tarde foi morrendo. Não demorou muito um casal que vinha numa camioneta parou pra me socorrer. Colocamos a bike na camionete e seguimos. No caminho, conversando é que eu vi o quanto de muitas curvas, descidas e subidas ainda teria nesses últimos 10 km. Daniele e Luis me levaram até a balsa que faz a travessia para Ilhabela.

Nos despedimos fazendo a foto dos amigos da estrada e trocamos contatos, é claro. Na balsa passei uma mensagem para Pedrita. Ela já me esperava pois é amiga da mãe da amiga da minha filha rs rs rs. E muito antes já havíamos trocado mensagens pra ver a possibilidade de me hospedar em sua casa.

 

Do outro lado, já em Ilhabela, foram 6 km de ciclovia até chegar ao centro histórico, perto de sua casa. Pedrita estava me esperando no pé do Morro Santa Tereza pois sua casa fica uns 300 m pra cima. Operação subida compensa a beleza da vista, o aconchego do lar de Pedrita. Depois dessa empreitada, só um banho bem quente, roupas secas e um bom chá pra fechar a noite. No outro dia, simplesmente, eu só consegui acordar. Porque passei o dia na cama relaxando, lendo e respondendo todos os recados do facebook e whatzap. Foi aí que conversando com Vera Mangueira perguntei se poderia ir pra sua casa no sábado. Ela concordou e falou que Enéas Teixeira iria me buscar na balsa sábado de manhã. Meu corpo estava tão cansado que eu sentia todos os músculos. Abençoado é o quarto que Pedrita me cedeu pra eu passar esses dois dias.

Com uma vista maravilhosa pra Baía de São Sebastião. O entardecer num degrade de cores lindíssimas no céu. No dia seguinte, revigorada levantei e depois fui ao encontro de Ronaldo Marletta e Alicinha.

Eles são amigos do Marcos, que eu conheci no Guarujá. E assim começou uma corrente de amigos, onde um indicava o outro e eles conforme podiam foram me ajudando. Encontrei Ronaldo, ultramaratonista e Alicinha, sua esposa no centro histórico de Ilhabela. Fomos a um café e por quase duas horas ficamos conversando e trocando ideias. Ao final do encontro ficou a certeza da nossa amizade e  que estariam sempre comigo, mesmo em pensamentos.

 

Voltei pra casa de Pedrita com um sorriso no rosto e com energia em dobro. Já ao entardecer, eu e Pedrita, fomos buscar seu filho na escola e retornamos. E nessa noite saboreando uma bela pizza de abobrinha conversamos até o sono aparecer. No outro dia eu partiria novamente. Acordei bem cedo e tentando fazer o máximo de silêncio fui arrumando os alforjes. Não adiantou, Pedrita acordou e acabamos por tomar café juntas. Ela me deu uma concha maravilhosa que achou no Oceano Pacífico e três conchinhas bem pequenininhas, que achou na Austrália. Ela e o marido, aventureiros dos mares...fiquei muito lisonjeada com a lembrança.

Na hora de me despedir de Pedrita, depois de um longo abraço, lembro até hoje o brilho em seus olhos. Pedrita querida, obrigado pelo carinho...é como se te conhecesse por muito tempo, é como se nunca eu tivesse me separado de você. Desci o Morro de Santa Tereza e depois dos 6km de ciclovia cheguei a balsa, justamente na hora pensada, 9.30 h da manhã.

E no outro lado Enéas já me aguardava. De São Sebastião a Jambeiro eram mais ou menos 89 km. Sendo que metade era só de subida pela Rodovia dos Tamoios.

Vera nos esperava com um bolo de chocolate e um cafezinho preto maravilhosoooooo. Na Rodovia dos Tamoios, Enéas me falou que eles moravam num sítio.

Não poderia ser melhor. Meu sonho é morar num sítio. E a morada deles é simplesmente maravilhoso. Imagina se a prosa não seria maravilhosa. Conversa vem, conversa vai e o assunto principal sempre as ciclo viagens.

Fiquei sábado e domingo com eles. Dois dias de muitas trocas de figurinhas. Também moram no sítio o pai e a  mãe de Enéas, Seu Alcides e Dona Cida. Seu Alcides depois de trabalhar anos como bancário e após sua aposentadoria resolveu mudar de vida quando comprou e mudou definitivamente para a Vila Teixeira.

 

Com seus filhos em volta a vida no sítio tem um ar aconchegante. Gatos, cachorros, galinhas, pássaros, flores, árvores, lagos, horta, varanda, fogão a lenha...Tudo de bom. Dois dias foram pouco pra respirar todo aquele sonho de lugar.  Conversando com Vera e Enéas, estudando que caminho seguir para o Norte resolvi que pegaria um ônibus até Juiz de Fora. Eu evitaria de subir a Serra da Mantiqueira e pegar a BR 116.

E assim na segunda feira fui com Enéas para a Rodoviária de São José dos Campos e comprei passagem pra Juiz de Fora. Às 10.30 h eu estava embarcando pra Minas Gerais.