quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Vento Nordeste: Santa Catarina até Paraná

Dentre todas aventuras de minha vida Vento Nordeste é a mais ousada. Há dois anos, eu estava em Salvador, na casa da minha filha Taynan casada com Weider, um baiano arretado de querido (não vou contar a história de amor deles porque com certeza daria um capítulo a parte) quando veio a minha cabeça, entre sonhos de ciclo viagens: - Porque não... vir de Florianópolis a Salvador.E esse pensamento não fugiu. Sempre a cada instante o pensamento foi sendo alimentado, sonhado... E desde então foi crescendo... minha pretensão era sair em maio do ano passado, em 2015. Mas por problemas familiares não deu certo. Adiei para outubro. Mas com o fenômeno El niño passando pela nossa região com chuvas intensas, fortes e diariamente, adiei novamente.
Então pensei que maio de 2016 seria um bom mês. Outono, nem quente nem frio. E a medida que fosse chegando a região central do Brasil, menos frio seria.Como eu já tinha organizado tudo o que eu achava que poderia carregar, comecei a montar a bike. Monta, desmonta. Monta, desmonta... minha primeira grande aventura. Realmente, não é fácil conseguir organizar a bike sem saber como vai ser a viagem... Então, resolvi montar e sair do jeito que desse e ir até a casa de minha mãe. Até a casa da minha mãe conseguiria entender o tamanho da minha bagagem...sim, minha decisão foi acertada. E nesses 40 km, do meu bairro Rio Vermelho até Barreiros em São José, senti o peso de tudo que eu carregava em desequilíbrio.Primeiramente, pensei em sair logo após o meu aniversário dia 06 de maio. Pois poderia ficar com minha filha Luiza. Depois, pensei em dia 21. Mas já no inicio de maio, com treinos diários e muito fortes a virilha, bunda e as pernas podem ficar com a pele ressecada. Pode aparecer espinhas, pelos encravados e assaduras. Foi o que aconteceu comigo, apareceu um pelo encravado na bunda, logo na volta que faz o apoio no banco. E infeccionou, cresceu. De forma que eu tive que procurar um médico no posto de saúde do meu bairro. Pra minha felicidade, fui atendida por uma médica soteropolitana, dra. Luciana. Ela está a 8 meses em Florianópolis, clinicando em nosso posto de saúde do bairro. De uma atenção rara, entre os médicos de posto de saúde, me clinicou, aconselhou e me retornou pra semana seguinte. Precisaria dar uma olhada final pra ver se o tratamento deu resultado. Semana seguinte, voltei...não estava bom. A dra. Luciana me indicou um antibiótico e mais pomadas. Levei uma flor pois era seu aniversário. E ela disse: se semana que vem não fechar, volte. Na terceira semana de maio, ainda não estava completamente curada e resolvi partir, datava dia 30 de maio de 2016.


Assim, deixei algumas coisas na casa de minha mãe e parti para Tijucas - SC.  Fui pra  Tijucas, com a mesma ideia de reorganizar a bagagem, pois ficaria na casa da minha amiga Deise.

Na casa dela, retirei os alforjes, saco de dormir, espalhei no chão  e comecei a montar pela minha bike novamente rs rs. Entre uma conversa e outra, consegui uma boa organização e que de quebra me deu um bom equilíbrio na bicicleta;  fiquei mais tranquila, pois desde a minha saída de Florianópolis estava ansiosa por causa da bagagem. Eu pude aproveitar as horas que restavam junto a essa família linda  e mais a minha amiga irmã Inês(quecível) que veio de Itapema pra gente se ver. Depois,  nada como uma boa noite de sono pra continuar a viagem. E agora com toda bagagem nos seus devidos lugares. No outro dia de manhã, como minha meta era apenas chegar até Balneário Camboriú, o café foi mais demorado, a conversa esticada... com direito a visita de Alexandro Chiara, um ciclista que conheci pedalando na BR 101.



Alexandro me orientou em como usar o aplicativo Strava para eu poder ir registrando meus caminhos. Por volta de 14h segui meu caminho para Balneário Camboriú.  Fui para o apartamento de Carol e Roberto. Nada como uma pizza pra selar a conversa da noite. Roberto foi meu grande incentivador pra eu começar a pedalar. Foi com a orientação e treinos que ele montou  pra mim há 11 anos. Depois de seu casamento com Carol, resolveram morar no Chile sua terra natal. E deixou comigo a bicicleta que ele me dava pra treinar até eu comprar a minha.  Por isso, a magrelinha que ele me deu e é a mesma que viajei, foi batizada de Robertito.Acordei no apartamento do Roberto e Carol, às  7h da manhã. Me organizei, tomei café, 8h30 estava pronta.Me despedi da Carol e Lorenzo.Muito bom estar lá, porque é muito estar na casa de quem a gente conhece.


Peguei a bicicleta e segui em direção a academia que meu amigo Roberto trabalha. Fui recebida no Espace Mavie pela Lucimara Holleben e Dani, professora de Ballet e Pilates.  Era hora das despedidas e as meninas cercaram  a bike pra matar a curiosidade e  fazer perguntas... O mais interessante é ver o espanto delas em saber que eu estava a pedalar sozinha, de bike...  Observação da menina mais alta dizendo que antes achava que o negócio de ciclo viagem era pra gente maluca, mas viu que eu era normal, todos riram. Me apressei pra sair porque senão jamais conseguiria chegar em São Francisco do Sul, a 110 km. Saída de Camboriú foi um pouco difícil com neblina, o que facilitou foram as ciclovias da cidade. Já na BR 101, apesar do acostamento bem largo, o trânsito de caminhões é muito intenso. O barulho dos caminhões é ensurdecedor e  a cabeça fica cansada. De todas as cidade que eu já andei acho que de Camboriú até a ponte de Itajaí, que entra pra navegantes, é o trânsito mais intenso, mais forte, cansativo, barulhento e sujo. Depois de passar a ponte, onde só tem um corredorzinho pro ciclista e pedestre, e cada caminhão que passa a ponte balança muito, parece que vai cair.


4km após a ponte de Navegantes parei pra descansar. Comi uma pamonha deliciosa e segui...Fui até Barra Velha, onde parei de novo pra descansar. Almocei e toquei BR de novo. Achei que não ia conseguir chegar em São Francisco por causa da bunda assada kkkkkk.Eu estava achando que ia muito bem até quando cheguei ao trevo de acesso a São Francisco do Sul.


Como eu sempre calculava a quilometragem pelo tempo que eu tinha achei que logo chegaria a São Francisco.  25 km, tudo bem. Eram 16h ainda, pensei: "antes das 18h estou lá". Mas eu saí de uma BR pra uma SC com um trânsito intenso de caminhões e carros. Acostamentos irregulares e lugares que nem havia acostamento... a minha velocidade baixou. O sol baixando e a luz aos pouquinhos deixando o dia, o cansaço tomando conta na minha primeira noite sem o conhecido. Agora eu já não conhecia mais ninguém, não sabia onde ficar e nem como seriam as pessoas que me receberiam.  Aí veio a escuridão. Ainda bem que consegui falar com o Fábio Vieira. Eu havia feito contato com ele antes de ir pra São Francisco. E pelos dados que passei do lugar onde estava, conforme Fábio, mais uns 6km e eu estaria no centro de São Francisco.  Mas Fabio me falou que do centro até sua casa seriam mais 19 km. Então ele falou com Edgar, um amigo que tem uma pousada no centro de São Francisco pra me abrigar aquela noite... muito bom porque já era passado de 18h30 quando vi luzes... imaginei tô chegando. Que sensação de alívio! rs rs rsCheguei e dei de cara com a pousada que Fábio me recomendou. Conheci Edgar e sua mãe Alcide, de 83 anos que administra a Pousada com uma energia de dar inveja. Edgar gentilmente me ajudou a levar a bike para o quarto. Todos sabem da facilidade em ter ela as nossas mãos e tranquilidade ao nosso coração. Como não poderia ser de outa forma dormi o sono dos anjos depois desses 109,6 km.Acordei perto de 9h. Sem pressa tomei café e bati um longo papo com Alcide. Lá pelas 11h30 saí e fui à praia de Ubatuba. Cheguei à casa de Fábio e dez minutos depois ele chegava de seu trabalho pra almoçar. Almoçando e conversando fomos nos conhecendo.


Mais tarde conheci Cinthia, Miguel e Gustavo.  E na energia da Família Franciscana fui convencida a passar o final de semana com eles.



Fomos ao ponto mais alto de Joinville, visitamos o Museu do Mar e conseguimos ver um lance de 10 ton de tainhas, na Enseada.




Ainda tivemos tempo pra um bom bate-papo onde  Fábio me passou uma rota que ele mesmo fez saindo de São Francisco até Itaúnas, no estado do Espírito Santo.  Mas quando chega a hora das despedidas dá um nó e ao mesmo tempo me encheu de alegria. Essa primeira parada na casa de Fábio e Cinthia foi primordial. Porque desde que eu saí de Florianópolis tinha ficado na casa da mãe, na casa da Deise e depois na casa de Roberto. Lugares que eu já tinha a certeza de ser bem recebida.  Mas na casa de Fábio era a primeira realmente que eu entrei sem conhecer ninguém e fui muitooo bem recebida. Me senti tão em casa e com todas as orientações e informações de Fábio que na segunda feira, dia 06 de junho, parti completamente tranquila e feliz.


Voltei os 19 km até o centro histórico da cidade.


Quando a chuva apareceu,  parou, voltou a chover, e depois veio uma garoa que não deu trégua. Procurei o terminal dos barcos. Por R$ 30  paguei a minha passagem e da minha bike Robertito.

Em meia hora de travessia alcançamos o terminal da Vila da Glória. E a garoa continuava, nuvens carregadas sem dar a mínima condição para eu fotografar esses momentos.Resolvi continuar a viagem porque não teria condições de continuar ali, assim sendo seria melhor adiantar o percurso.  Vestida com a capa e calça pra chuva ainda amarrei nos pés sacolas plásticas porque a chuva agora apertava. Informada pelos moradores que teria pelo menos 10km de estrada de chão pela frente completamente embarradas. Teve horas na estrada que eu achei que não conseguiria pela quantidade de chuva, lama e buracos cheios d'água que a gente só via se era fundo ou não depois que já estava lá dentro. Levei mais de uma hora pra encontrar estrada de asfalto e sair daquelas condições.


Perto das 14h cheguei ao início de Itapoá. Encontrei um restaurante a quilo e ali almocei e descansei. Troquei de roupas estavam molhadas do suor do esforço em pedalar naquelas condições climáticas. Continuei o caminho porque ainda precisaria passar por todo o município de Itapoá.

Aos que me acompanharam durante essa viagem e estão conseguindo me acompanhar na minha narrativa, vou postar um depoimento por cada Estado viajado. Para um melhor entendimento de todos! Até agora a viagem foi dentro do Estado de Santa Catarina...

Semana que vem será a vez do Estado do Paraná!!!!