sábado, 28 de janeiro de 2017

Do Espírito Santo à Bahia

Entrando no Espírito do Espírito Santo!!  Não é pra qualquer um!! Não é pra qualquer hora. Aquela era a minha hora. Eu entrei no quinto Estado do nosso Brasil pedalando, mais precisamente na cidade de Baixo Guandu.

A distância entre Aimorés - MG e Baixo Guandu - ES são 8 km, praticamente coladas. Novamente encontro os trilhos dos trens quase na saída da cidade. Parágrafo para o momento reflexão junto ao trilho. Quem não fica parado olhando os trilhos pensando em qualquer coisa.

Acho que os trilhos nos remetem a histórias românticas. Eu, particularmente, me sinto hipnotizada, tamanho é o seu magnetismo. Me deixo viajar parada olhando aquele caminho retilíneo com os espaçamentos simetricamente colocados. O que contrasta e ao mesmo tempo combina com tudo ao redor. E quando se ouve o apito e o barulho do trem chegando, qualquer um pára pra ver ele passar. Os trens são lindos, seja ele de carga ou de passageiros.

Depois de viver meu momento trem segui pra Colatina distante 48 km. Novamente estradas isoladas somadas a paisagem seca e quase sem vida.

A cada curva a esperança de encontrar árvores verdinhas ou rios com muita água. Mas foram quilômetros e quilômetros na mesma paisagem.

 

Então, a medida que eu seguia também fui justificando o porquê de tanta seca...longo período sem chuvas, muito tempo sem chuvas. Foi quando eu encontrei um grande rio e sorri. Hummm encontrei afinal um rio com muita água. Sim, muita água em comparação aos muitos rios que eu passei e que estavam secos.

Mas esse era o Rio Doce. E eu fiquei por minutos olhando pra ele com misto de espanto e tristeza. Nessa hora é que eu caí em mim sobre esse rio. Esse era o Rio Doce que sofreu e ainda sofre com a catástrofe de Mariana.

Ali, depois de tantos quilômetros que a lama percorreu o rio ainda padece. A partir daquela Ponte sobre o Rio Doce a qual se iam 466 metros acompanhei o rio até Linhares. Mais ou menos 120 km de lama, de destruição. Durante o caminho até Colatina devido ao meu desapontamento esqueci do meu percurso e pensando estar muito longe ainda parei pra perguntar. Parei no IFES, Instituto Federal do Espírito Santo, e perguntei ao porteiro da Instituição sobre a distância até Colatina. Eu estava muito perto. Continuei meu caminho. Quando, de repente, vejo longe um ciclista speed vindo a toda velocidade. Eu levantei o polegar pra cumprimentar e pensei rindo que esses ciclistas passam tão rápido que nunca cumprimentam. E segui rindo do meu pensamento.

 

Comparei ele a um personagem de desenhos o papa-léguas...rs rs zum...zum...zum. E sem esquecer o ciclista, pedalando vagarosamente, observando sempre o Rio Doce. Foi quando o ciclista encostou e falou oiiiii. Eu olhei pra ele e sorri. E sem parar seguimos pedalando, dessa vez bem devagar. Devagar o suficiente pra irmos conversando. Nos apresentando e nos conhecendo. Contando muitos causos, histórias da viagem. Adailto, como se chama, me convidou pra almoçar na casa dele. Não sem antes da nossa foto documento de estrada. Depois seguimos pra casa da Idalina, sua mãe.  Meio dia e meia é a hora que a fome pega. E encontrar aquela comidinha caseira feito pela mamãe, de Adailto, tudo de bom. Atacamos as panelas. Comendo e conversando fui descobrindo um amigo maravilhoso. Adailto tem uma energia única. Ele me passou tranquilidade e eu me senti tão bem que o tempo passou muito rápido. Mas, a essa hora não me preocupava mais o tempo passado. Eu já estava em Colatina. Foi quando Adailto perguntou se precisava arrumar alguma coisa na bike. Só assim lembrei que poderia ter algo pra arrumar. Ele deu uma olhada e falou que seria necessário a troca das roldanas. Eu falei que se ele soubesse trocar que o fizesse. Não só trocou como também me orientou em como trocar caso houvesse necessidade durante a viagem.  E nesse momento chegou o Lau Foguinho. Seu amigo do coração. E agora também meu amigo do coração. Conversa a três. Daí a conversa se estendeu mesmo. Só que Adailto tinha hora no trabalho. E nos despedimos.  A emoção tomou conta de nós. Como era difícil dar tchau. E eu fiquei com Lau. Tínhamos combinado de eu ir dormir em seu apartamento que ficava no centro de Colatina. Mas até lá ainda tinha mais 10 km a ser percorrido. Saí na frente porque Lau estava de carro.

Marcamos nos encontrar no Lemão Bike. Deu tudo certo. Conheci o Lemão que é um revendedor oficial da Soul, em Colatina. E me presenteou com a troca da segunda roldana e mais um ajuste na corrente. Um querido, humilde e pelo que senti amigo de todos. Obrigado Lemão. Depois, eu segui Lau até o apartamento dele. E pra fechar o dia começou uma chuvinha fina que deu pra molhar. Mas também deu pra cansar. Lá no apartamento conheci a Roberta, namorida de Lau.

Que me acolheu com um sorriso encantador. Roberta é de uma beleza surpreendente. Linda de espírito tanto quanto Deus a fez linda fisicamente. Nossa foi um dia e ainda foi uma noite cheia de surpresas.

Depois do banho ainda acompanhei Lau e Roberta a uma reunião de trabalho pra depois acabar a noite num boteco de Colatina, experimentando o famoso Angu Capixaba. Dos deuses, maravilhoso mais uma boa pinga de gengibre. É pra esquentar até a alma rs rs rs. Era hora de ir pra casa, casa de Lau. A noite foi pequena mas bem dormida. Roberta saiu antes porque tinha hora pra chegar. Depois eu fui arrumando a bagunça e Lau em seguida.

Lau disse que seguiria comigo até uma parte da viagem. Então, saímos os dois, de Colatina, em direção a Linhares. Adailto falou que se desse tudo certo nos encontraria no caminho. 

 

Percorremos todo o centro da cidade, atravessamos uma ponte e chegamos a uma estrada secundária que nos levaria até a estrada pra Linhares.

Fomos tranquilamente conversando, filosofando e fotografando sempre a beira do Rio Doce. Quando nós comentamos que Adailto não tinha aparecido, ele apareceu atrás de nós rindo.

E andamos apenas alguns metros quando surgiu também o Herivelto. A confraternização aconteceu ali mesmo na beira da estrada. Depois os meninos sugeriram continuar a viagem até Humaitá.

Lá almoçamos e Adailto partiu em seguida porque teria que trabalhar. O Adailto voou.

Porque teria que ir até em casa, tomar banho e ir trabalhar em menos de uma hora. Só que nós estávamos a uns 40 km de Colatina. Do centro de Colatina até a casa dele mais uns 10 km. E mais o caminho para o trabalho. Rs rs rs, ele se foi pedalando forte, quase voando, aliás eu descobri que ele é supersônico. Adailto é campeão capixaba de MTB. Lau me apresentou uma estante cheinha de medalhas e Troféus na casa de Adailto.

Nossa despedida em Humaitá me fez ficar muda, em silêncio. Adailto é uma pessoa incomum. Carismático, amigo, parceiro. Fiquei triste momentaneamente. Mas, pelo presente de ter conhecido Adailto, feliz. Feliz porque estava com Lau dividindo comigo aquelas horas até Linhares.

Por conhecer pessoas especiais que marcaram minha passagem pelo Espírito Santo. E assim, eu e Lau, seguimos caminho.

Hora falando, hora brincando, hora comendo. Perto das 5 h da tarde começamos a chegar em Linhares e pela primeira vez eu estava com muita fome. Falei a Lau, quando chegar a Linhares quero ir direto pra uma padaria e comer muiiiiiiiiito. Como Lau já conhecia muito bem a cidade fomos direto a uma padaria dele conhecida.

Eu comi muiiiiiito. Até sentir sono rs rs rs. Depois seguimos para um hotel que ele indicou e também pra encontrar com Herivelto. Logo que Herivelto chegou eles colocaram a bike de Lau no porta malas. Mais uma despedida. Despedida carinhosa. Obrigado Lau pela companhia, pelo bate-papo, pelas risadas...Foi uma parceria maravilhosa. E Linhares foi uma cidade de passagem apenas porque no outro dia fui embora.

 

Dessa vez era a hora e a vez de encarar a BR 101.  A medida que eu saia de Linhares ficava mais fácil e tranquila a viagem. Apesar da ser uma rodovia de alta concentração de caminhões eu estava tranquila com o pouco movimento. Logo na saída encontrei um quiosque que vendia caldo de cana.

Garrafa térmica abastecida e segui viagem. Nesse percurso, depois de Linhares, a estrada é bastante plana. Então, essa distância até São Mateus foi tranquila. Com uma paisagem bastante simples e igual. Mas não posso esquecer desse dia.

Especialmente porque enquanto pedalava meus pensamentos sorriam com a ansiedade em saber se seria avó ou não.

 

As horas passavam e minha filha não ligava pra me falar sobre o resultado do exame. Quando faltavam 12 km pra chegar em São Mateus nuvens carregadas no horizonte indicava que era hora de procurar abrigo. Foi quando parei em um restaurante a beira da estrada pra esperar a tormenta chegar. Nessa hora minha filha ligou e me deu a notícia de que esperava um filho. A chuva chegou maravilhosamente junto com minhas lágrimas de felicidade. E assim fiquei por um bom tempo sonhando e sentindo aquela chuva maravilhosa.

Alguns minutos depois, quando aquela nuvem se afastava, o sol voltou a brilhar quase já na linha do horizonte. Eu acordei dos sonhos e retornei a estrada porque teria pouco tempo pra chegar a São Mateus antes do anoitecer. Minha felicidade era tanta que me deu forças e alcancei o centro muito rápido. Rápido o suficiente pra eu chegar e conseguir me abrigar de mais um pancada de chuva.

Parei em um bar que estava fechado mas tinham algumas cadeiras na área externa. Fiquei ali esperando o temporal ir embora.

Perto das 8 da noite, com garoa fina, muita água pelas ruas, resolvi procurar o hotel mais próximo e também foi o mais caro de toda a minha viagem. Pra completar a água de São Mateus é salobra. Até para escovar os dentes é uma experiência nada interessante. Tomar banho e lavar os cabelos é a mesma coisa que sair de um banho de mar. Dá pra sentir o sal na água não tratada. Muito ruim. O jeito era deitar e dormir. Descansar porque o melhor era sair de lá. Com aquela sensação de querer sair rápido e sem olhar pra trás. Foi assim que eu fiz, fui embora.

Como de São Mateus a Pedro Canário eram perto de 40 km achei que estava tranquilo. Mas a medida que eu seguia mais difícil se tornava a viagem. Eu tinha marcado com o Wagner para nos encontrar às 11h no trevo para Pinheiros.

Mas eu sentia o corpo cada vez mais pesado e parei no SOS da estrada pra dar uma respirada. Nessa hora conheci o Wellington Santos  e sua esposa, amigo de Adailto, de Colatina.

Grata surpresa encontrar amigos desse jeito especial. Tinha que seguir pois Wagner estava me esperando. Era passado de 11.30 h quando cheguei no trevo combinado. Conversamos pouco devido ao meu atraso.

E Wagner se foi e eu não consegui sair dali. Meu corpo pesava, minha cabeça doía, o brilho do sol estava me incomodando...essa hora é complicado.Se você entra no desequilíbrio psicológico não pedala mais. É necessário muita força e pensamento direcionado pra onde quer ir.

A vontade é de ficar, nem mesmo olhar para o lado. Então temos que dirigir o pensamento para o objetivo, focar e seguir, seguir, seguir. Foi o que eu fiz.  Os 24 km até Pedro Canário triplicou em meu corpo. Mas o pensamento em querer chegar faz a gente ir em direção do foco. E rindo a cada km conquistado rs rs rs  E ainda nesse mesmo dia tão difícil pra mim, numa super descida um prego de mais ou menos 10 cm atravessou o pneu traseiro.

Como eu não tinha condições físicas chamei o SOS, da rodovia. Logo chegou o socorro e me ajudou a trocar a câmera. Ainda me deu uma carona pra sair daquela descida e subida do além. 

 

Perto de 4 e meia da tarde cheguei a Pedro Canário. Cidade pequena. Sábado. Comércio local fechado. Poucas pessoas nas ruas. Parei, pensei e resolvi ir pra rodoviária e pegar um ônibus. Pedro Canário é a última cidade do Espírito Santo. Conforme todos os conselhos recebidos era pra  tomar muito cuidado quando entrasse no estado da Bahia.

A BR 101 em péssimas condições somados aos perigos. Peguei o ônibus às 6 e meia da tarde para Porto Seguro BA.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

De Minas Gerias ao Espírito Santo

Cheguei a rodoviária de Juiz de Fora MG perto das 18 h. Assim que eu desci já entrei em contato com Ronaldo Marletta. Ele e seus amigos ultramaratonistas foram maravilhosos. Desde que eu saí de Ilhabela fui adicionada em seu grupo no whatzap para que se houvesse qualquer problema pudesse entrar em contato e tentar um apoio. Assim, foi que Ronaldo entrou em contato com seu amigo Farenazzo de Juiz de Fora. Mas, ele não estava na cidade. Era época da passagem da pira olímpica e ele foi requisitado, como atleta, pra conduzir a pira em Belo Horizonte. Então, Farenazzo pediu a outro amigo, o David pra ir me apoiar. Em menos de meia hora David entrou em contato e foi me buscar na rodoviária. No caminho, falou que eu iria ficar na casa de sua mãe porque a casa dele era nova e estava sem estrutura. Lá fomos pra casa de Ana Maria, sua mãe. Qual não foi minha surpresa ao chegar lá e encontrar aquela mulher nos seus 74 anos carregadinha de energia. 

Depois o David me ajudou a entender como se desenhava a geografia da região perto de Juiz de Fora. E numa volta rápida de carro, ele me ensinou a sair da cidade. Retornamos pra casa e agora foi a vez da conversa fiada com Ana Maria. Entre perguntas e respostas conversamos e rimos muito. É uma benção de Deus encontrar uma pessoa tão querida em meio a essa viagem. David e Ana Maria obrigado pelo apoio. Com vocês Juiz de Fora ficou em meu coração. Com vocês, minha porta de entrada em Minas Gerais não poderia ser de outra forma, com energia total. No dia 21 de junho, cedinho, me preparando pra zarpar. Depois daquele cafezinho com Ana Maria, o David aparece para as últimas recomendações e nos despedir.

Saí de Juiz de Fora com sensação de quero mais, olhando pra todos os cantos, percebendo as pessoas nas ruas e seguindo o caminho que David me recomendou. Eu, em plena felicidade, observava tudo...muitas vezes era tanta beleza que eu ficava suspirando e esquecia de fotografar.

Conforme eu e David havíamos pesquisado nos mapas, eu seguiria pela MG 353, passando por Cel. Pacheco, Tabuleiro e depois Rio Pomba.

O dia estava maravilhoso, as estradas estaduais de Minas são relativamente tranquilas mas sem acostamentos.

E no decorrer da viagem podia ficar minutos sem passar nenhum carro e de repente aparecer caminhões do além. Sempre era necessário muita atenção, ficar com um olho na frente e outro no espelho retrovisor.

E apesar dos 74 km consegui chegar cedo em Rio Pomba. Não era nem três e meia da tarde. Com a ajuda de uma mulher, muito querida, na entrada da cidade, achei logo um hotel simples e antigo. Nesse hotel tudo era muito antigo e eu olhava cada móvel de boca aberta. Tudo muito bem conservado. Depois de instalada, tomei um banho maravilhoso e fui procurar por uma padaria. Acho que a única coisa que senti falta foi do cafezinho de tarde. Corpo refeito e voltei para o quarto descansar bastante, responder as mensagens, ligar pra mãe e para as filhas. No outro dia, eu estava tão bem e descansada que poderia ir muito, muito longe.

Assim, parti em direção a Ubá. Feliz por estar em Minas Gerais. Há anos eu sonhava em andar pelas estradas de Minas.

Melhor ainda que foi pedalando. Não demorou muito, perto de dez horas da manhã, cheguei a um entroncamento que dividia a estrada. De um lado seguia para Ubá e de outro para Cataguases. Também ali, parei pra conversar e comer algumas pokam. Foi quando dois caminhoneiros, curiosos em me ver por ali vieram conversar.

E trocando ideias sobre os caminhos eles me convenceram que seguir pra Cataguases seria melhor, pois eu estava de bicicleta. Aceitei a sugestão com certeza. Depois de muitas pokam segui o caminho pra Cataguases.

Nem por um minuto me arrependi de pegar essa estrada.

Entre fotos e reflexões fui descobrindo essa paisagem maravilhosa de Minas. Passei por Piraúba, Astolfo Dutra e Dona Euzébia.

Todas essas cidades ficam a alguns km da estrada. Não foi possível conhece-las.

Mas tive o prazer de ter feito amigos, como a Rita Magalhaes de Astolfo Dutra, que me acompanharam pelas redes sociais. E que se um dia Deus me permitir poderei voltar.

Quando faltavam poucos km pra Cataguases ainda peguei uma serra de uns 3 km e aí entrei na cidade. Uma cidade com pouco mais de 74 mil habitantes. Muito arborizada o que me chamou a atenção desde que eu entrei na cidade. Aos poucos fui chegando mais ao centro. Foi quando um motoqueiro me perguntou pra onde eu ia. Falei que estava chegando e iria procurar um lugar pra dormir. Então Fernando, o motoqueiro, sugeriu que o acompanhasse até uma loja de bikes pois eu encontraria vários ciclistas que poderiam me ajudar. E fui atrás dele até a loja.

Lá conheci os meninos e com a ajuda do Rangel achei um hotel no centro da cidade bem tranquilo.

Também conheci Otaviano e Sandra que foram até o hotel pra gente conversar. Entre muitas perguntas e respostas, nosso bate-papo se estendeu. Assim, fiquei conhecendo um pouco mais de Sandra. Uma guerreira da vida. Uma mulher de fibra mas que não esconde sua doçura a quem precisa de sua mão. E Otaviano que me acompanhou, dentro do meu alforje, dando força e palavras de carinho. Duas pessoas inesquecíveis! Especiais!  De noite participei do mocotó na oficina do Darcílio.  Que com aquele frio do inverno caiu muito bem.

Olha, conheci tanta gente no mocotó que não consegui memorizar todos... mas tenho alguns amigos que conseguimos nos achar pelas redes sociais o que me ajudou a decorar seus nomes e alimentar nossa amizade. Mas sem a grande ajuda que Otaviano e Sandra me deram pra eu receber apoio a cada cidade de Minas Gerais até o Espírito Santo, nada seria tão maravilhoso. E assim, no outro dia, quando parti fui em direção a Muriaé já contava com o apoio de lá. Quando eu estava saindo da cidade ainda encontrei com o Rangel que em seu caminhão estava também partindo pra fazer uma entrega...lembro até hoje dele com aquele caminhão enorme buzinando e eu achando que era pra eu sair da frente dele. Com certeza, nem me atreveria desafiar um caminhão rs rs rs.  Mais adiante, na saída da cidade, conheci o Sebastião.

Personagem querido de Cataguases. Trocamos muitas ideias em poucos minutos. Obrigado, Sebastião pelo presente, pelo presente muito bem aproveitado. Um presente muito carinhoso!

E qual não foi minha surpresa quando achei que estava sozinha vi, ao longe, uma ciclista vindo em minha direção.

Ela toda em rosa, sorridente nos encontramos na estrada. Maria de Lourdes esbanjando energia, sorridente, simpática e maravilhosa.


Segui a estrada. Sol, céu azul, temperatura maravilhosa, natureza, pequenas curvas, alguns carros, momentos de silêncio junto as árvores...Oh, Minas Gerais!!

 E em meio a esses minutos de reflexão conheci o Wellington que parou quando me viu ali olhando pro céu.

Ele disse que viu as fotos do mocotó,da noite anterior, na oficina de Darcílio. Essas fotos rolaram no facebook o que me ajudou muito pois a medida que meus amigos mineiros tomavam conhecimento da minha viagem, recebia cada vez mais apoio deles. Oh, Minas Gerais! 




E a tarde se passou tranquila e com tempo de sobra pra chegar a Muriaé. Mais ou menos 4 h da tarde cheguei a Muriaé. Com mais ou menos 110 mil habitantes é uma  cidade importante da Zona da Mata Mineira com comércio e indústria. Quando eu cheguei a Muriaé pensei chegar a uma pequena cidade. Depois, a medida que eu ia entrando e tendo noção do seu tamanho. Conforme combinei com a Sandra, de Cataguases, eu teria que entrar em contato com as meninas de Muriaé assim que eu chegasse pra saber se teriam como me dar um apoio. Liguei pra Natália e combinamos onde elas, Natália e Isabella, onde me encontrariam.

Chegou sorridente, com seu carro aberto atrás, colocamos a bike em cima e fomos pra casa dela. Natália é uma pessoa cheia de energia, que encanta. Me senti acolhida e segura. Amiga e carinhosa, amiga carinhosa. Que o diga Isabela sua amiga e parceira das pedaladas. Porque essas meninas são movidas a turbo, quer dizer, a pedal. Obrigado meninas adventures de Muriaé. Com o carinho de vocês carimbou minha passagem pela cidade.

Natália foi comigo até a saída da cidade. Nos despedimos e me fui. Era hora de pegar novamente a BR 116. Seriam uns 100km pela frente.  Como eu já sabia que teria uma casa de apoio em Miradouro pedalei tranquilamente.


Ainda mais que seriam próximo de 30 km até a casa de Evandro, amigo de Otaviano, de Cataguases. Era cedo, então bora aproveitar o que temos de melhor nesse Brasil: a natureza.

Nessa longa estrada da vida fui cantando e vivendo, sorrindo e agradecendo. Antes das 13 h cheguei a Miradouro.

Sorri quando li na primeira placa sinalizadora da distância até Miradouro e Salvador. Em toda a viagem foi a segunda placa indicando que eu estava indo pra Salvador. O dia estava quente. E quando cheguei a oficina de Evandro fui recebida com um sorriso amigo. Evandro me convidou pra subir ao primeiro andar, onde fica a sua casa. Sua oficina fica no térreo. Rosi, esposa de Evandro, tinha deixado pronta uma torta salgada. Eu e Lázaro, filho de Evandro em meio a um bom bate-papo, comemos boa parte da torta.  Já me sentia em casa depois do banho. E como me restava toda a tarde, entre idas e vindas, Evandro e eu conversamos e trocamos várias idéias. Conheci também Guenael Dornelas, amigo, conselheiro e parceiro. Idealizador dos 200tão que um dia, também eu, vou me aventurar. Mais tarde, conheci seu outro filho Álvaro e Rosi. E pra finalizar conheci Ivan, tio de Evandro. 

Um ser que deixou marcado em mim como podemos fazer a diferença. Ivan, com seu jeitinho mineiro, faz um trabalho assistencial com características franciscanas. Um verdadeiro discípulo de São Francisco transportado no tempo. Ganhei respostas que há muito procurava em pensamentos. Uma sementinha de sua luz ficou plantado em mim.  Dia mais do que especial.

A noitinha fomos dar uma volta no centro de Miradouro. E na volta Rosi, com seu tempero mineiro, fez uma macarronada num tacho de ferro. Agora pensa no que era aquela noite: eu, Evandro e Rosi as voltas com uma garrafa de vinho conversando e rindo a espera da macarronada.

Agora imagina no silêncio da turma quando começamos a comer...só pra ter uma ideia, ninguém falava, ninguém respirava kkkkk. Simplesmente maravilhosa!!  A macarronada dos deuses. Hummmmmm. Fechamos com chave de ouro nossa noite. Todos cansados e felizes fomos deitar. A noite era pequena e o amanhecer logo chegaria. Dormi muiiiiito. E feliz. De manhã com o movimento normal da casa onde uns trabalham e outros estudam me coloquei em movimento também. Da minha viagem, essa manhã foi a mais difícil. Eu tinha uma mistura de sentimentos, sentimentos misturados e muito fortes.

Como me despedir dessas pessoas tão maravilhosas?  mas também com uma felicidade enorme de tê-las encontradas. Abraços apertados, olhar silencioso, nó na garganta foi assim que parti. Antes de eu sumir na primeira curva dei uma olhadinha pra ver eles.

E eu chorei, chorei de muita felicidade por ter tido a oportunidade de conviver com essa família tão minha família agora.


Pedalei por vários km sem conseguir pensar em outra coisa, a não ser nesse presente que Deus me deu. Obrigado Pai!   Conforme as indicações dos muitos amigos da Zona da Mata Mineira, de Miradouro a São João do Manhuaçu, seriam 69 km.

Era necessário administrar bem o dia pra chegar lá. Em poucas horas cheguei a Fervedouro. O que eu não esperava era o convite bem especial que ganhei na beira da estrada. Um carro vermelho parou do outro lado da BR. Nessa hora o motorista falou: quer almoçar lá em casa. Eu sorri. Ele disse: sou amigo do Evandro, de Miradouro. E eu pensei: Oh, Minas Gerais. Quantas surpresas. Sim, eu o segui até sua casa. Foi assim que conheci Adson Brejão e Vilma.

Logo na entrada da casa me deparei com uma sala bem iluminada e recheada de Flores de Maio. Tantas cores possa haver a Flor de maio, tinha na sala: branca, rosa, vermelha, pink, laranja, lindas. Lembrei que não pude acompanhar o florescer das minhas plantas em casa. E na parte mais charmosa de todas as casas, a cozinha, ficamos conversando enquanto o almoço era preparado pelos dois.

Olha, vou dizer uma coisa, comida mineira é o que há de bom nessa vida. Nem pensei que depois teria mais 40 km pra pedalar e comi o que dava e aguentava. Boa comida e companhia maravilhosa é uma soma perfeita pra sorrir o resto do dia. E como esquecer esse convite feito de forma tão diferente. Logo após o almoço, nos despedimos.


Mesmo com tantas tardes lindas que passei em Minas essa tarde estava especialmente linda.
As cores do entardecer em temperaturas muito próprias. E foi assim que encontrei a Erika, parada no acostamento, a espera de Raquel.

Respondendo algumas mensagens não notou a minha aproximação. E eu sem querer assustar fui chegando devagarinho. Com a aproximação da Raquel conversamos rapidamente. O suficiente pra nos conhecer, trocar contatos e fazer a foto documento do nosso encontro. Elas me falaram que faltava muito pouco pra chegar a São João do Manhuaçu.

Com aquele dia maravilhoso por mim o dia podia parar ali.  Não faltou muitas fotos dos morros carregados de pés de café. Passar por uma comunidade onde acontecia uma grande festa junina.

E o marcos, que viu as fotos dos amigos nas cidades anteriores em que eu passei e parou pra gente conversar um pouquinho. Claro que pra finalizar uma subida bem forte e longa, sem acostamento. Mas eu estava chegando. Final de tarde.


Cheguei a São João do Manhuaçu. Segui rapidamente pra frente da Igreja matriz para esperar um contato. Nesse meio tempo Seu Zé, do Albergue Monte Sinai, ofereceu ajuda no caso de eu não ter onde dormir. Falei que se meu contato não aparecesse iria aceitar sua ajuda com certeza. Era um sinal pois esperei mais uma hora e resolvi ir para o Albergue. O albergue recolhe qualquer pessoa que esteja nas ruas e estradas da cidade e que não tenha pra onde ir. Ali conheci o Seu Zé e sua esposa Tieda. Eles são voluntários nesse trabalho religioso e com muito carinho atendem a todos. Passei a noite num quarto próximo ao deles. No outro dia, como se fazia necessário a saída ser antes das 8 da manhã, acordei e junto a Tieda tomamos um café, conversando e filosofando nossas vidas.

Descobri dois espíritos iluminados que doam parte de seus dias em prol do ser humano. Trabalho esse que já fazem há anos. Muita gratidão!! 


  Assim sendo, cedo eu estava na estrada, recompensada pelo brilho e sorriso de Tieda. Era um domingo e eu tinha certeza que logo estaria em Manhuaçu.

Portanto, aproveitando cada centímetro da estrada parei várias vezes pra olhar e fotografar.

Numa dessas paradas, admirando um grande morro de pedras, escutei ao longe alguém me chamar. Quando eu virei mal pude acreditar no que eu estava vendo.

Era Evandro, vindo de Miradouro, até aquelas paisagens, a quase 100 km de distância. Ele parou e falou: achei que já tinha te perdido de vista. Nós rimos e ele disse: tenho que voltar, devo estar em casa antes do meio dia rs rs rs rs Uma foto pra eternizar aquela surpresa e um abraço apertado. Dessa vez fui eu que fiquei parada esperando ele sumir na primeira curva. Evandro é daqueles irmãos que encontramos pelas estradas da vida. E começamos a entender que a nossa vida é rodeada de irmãos de muitas vidas.

Eu sorria sozinha...de felicidade com a surpresa! Foi um maravilhoso presente.Não demorou muito e cheguei ao entroncamento onde finalizava pra mim a viagem pela BR 116.

Mais alguns poucos km e chegaria ao centro de Machuaçu.  Mas Moisés me encontrou antes. Moisés é amigo de Evandro, de Miradouro. Conversamos um pouquinho e ele sugeriu a colocarmos a bike no carro e seguir direto pra Reduto.

Nessa cidade estava acontecendo um passeio ciclístico. Um evento onde todos os ciclistas da região se encontram. Foi onde conheci Roberta, Rose e Gil, de Ipanema.

Depois devido a um compromisso em Belo Horizonte, Moisés me deixou no hotel e seguiu seu caminho. A tardinha fui com Roberta e Rose tomar um caldo de canjiquinha maravilhoso. Voltei cedo para o hotel porque eu estava bem cansada.

No outro dia, aproveitando o café da manhã do hotel, fiz uma bela refeição matinal sem culpa no cartório. 

E parti bem cedo, muito antes do comércio abrir suas portas. Afinal teria uma boa pedalada até Ipanema. Uma estrada asfaltada mas sem acostamento.

Observando que dentro de Minas Gerais nenhuma estrada estadual tem acostamento, infelizmente. Faltando uns 30 km pra chegar a Ipanema escutei um barulho forte na bicicleta.


Eu não conseguia entender da onde vinha o barulho. Depois de algumas tentativas descobri que o bagageiro quebrou e forçava os alforjes pra dentro da roda.

Com o parafuso da câmera GoPro fiz uma pequena gambiarra pra aguentar chegar em Ipanema. Deu certo.
Assim que cheguei lá, a fome era tanta que procurei uma padoca pra me alimentar. Afinal, eu ainda estava com a refeição matinal do hotel e uma grande enrolada de frutas e frutas secas pelo caminho.

O pessoal da padaria me indicou uma oficina e segui pra lá. Qual não foi a minha surpresa quando encontrei o Gil que eu havia conhecido um dia antes em Reduto, no passeio ciclístico. Gil, que é proprietário da Star Bikes Ipanema, escutou a narrativa do drama do bagageiro e pediu um tempo pra ele arrumar.

Como em Minas os ciclistas ainda não tem por hábito ciclo viajar ou ciclo passear não existe bagageiros nas oficinas. Foi assim que Gil, em seu momento Prof. Pardal, fez uma placa de sustentação nas hastes do bagageiro. Ficou tão bom e seguro que não pensei em nenhum momento trocar meu bagageiro por um novo.  E ainda conservo o mesmo bagageiro até hoje. E não pretendo me desfazer dele tão cedo. Com a indicação de Gil fiquei em pequeno hotel da cidade. Minha passagem por Ipanema foi assim rápida e marcante.

No dia seguinte, mesmo com o coração pensando no desconhecido, enfrentei uma estrada de quase 95 km até Aimorés, última cidade de Minas Gerais.


Acho que esse trecho entre Ipanema e Aimorés foi o mais inóspito de todos que eu viajei. Mas com a beleza característica da região.



Decididamente, depois de muitos km achando que não encontraria nada foi quando cheguei a um pequeno restaurante. A comida mineira feita no fogão a lenha. Nossa!! Pensa no tamanho da minha fome quando vi aquele almoço.  Tudo de bom. Era hora de comer rezando, silenciosamente. Depois sentar a sombra de uma bela árvore e relaxar.  Oh, Minas Gerais!! 




Eu estava na metade do caminho e por alguns momentos pensei que não conseguiria chegar a Aimorés.


Como nessa estrada não existia nada, o jeito era seguir em frente. Era final de tarde quando encontrei as primeiras placas sinalizadoras indicando que eu estava perto.


A entrada da cidade não é muito convidativa. Movimento intenso de caminhões e beirando a estrada a passagem do trem. Isso sem falar, a falta do acostamento. Logo que entrei em sentido ao centro de Aimorés a rua se torna mais tranquila pois tem duas vias pra ir e duas pra voltar.

Separadas por uma jardineira e grandes calçadas nas beiras. Já era noite e fui procurar o Renato. Quem me falou de Renato foi um casal que eu conheci no restaurante no meio do caminho. Conversamos bastante sobre a minha viagem e eles acharam por bem eu procurar o Renato. Mas, quando cheguei a Aimorés e o procurei não senti firmeza no rapaz, também ciclista. Eu o acompanhei até um hotel e depois se despediu de mim dando boa sorte, nunca mais o vi. Quando eu entrei naquele pequeno quarto do hotel me senti mal. A energia do quarto era muito negativa. Então eu rezei pedindo paz. Porque aquela hora já não teria como sair pra conseguir outro lugar.  Ciclo viajar e dormir a cada dia em um lugar pode ser uma caixinha de surpresa. Nessa noite, eu pensei, eu quero dormir pra acordar logo em outro dia e poder ir embora. Foi assim, minha passagem por Aimorés. Como num piscar de olhos. Levantei e organizei tudo o que precisava. Parti sem olhar pra trás. Nem mesmo uma foto senti vontade de fazer.

Dali uns 8 km encontrei a placa que me colocava no Estado do Espírito Santo. E sem questionar todo aquela reviravolta de sentimentos que estava sentindo olhei pra frente e sorri...porque parecia que mais uma etapa estava vencida. Agora era entrar no Espírito do Espírito Santo.